Texto: Carlos A Henriques
2014-12-18
A estreia mundial da terceira parte da saga “Hobbit” a 17 de Dezembro de 2014 trouxe, uma vez mais, à discussão o problema de se saber se a captação e projecção a 48fps (frames per second/fotogramas por segundo) traz algo de novo à linguagem cinematográfica, assim como à qualidade técnica inerente face ao sistema tradicional de 24fps, tanto na captação como projecção.
No sentido de darem resposta às necessidades de projecção de elevadas taxas de imagem, em gíria, HFR (High Frame Rate), os exibidores, na grande maioria, tiveram que proceder ao upgrade do firmware até então utilizado, assim como do software dos projectores digitais existentes de modo a que estes possam aceitar conteúdos digitais cuja frequência de imagem é superior à norma mundial de projecção usualmente utilizada, para o caso presente de 24 para 48fpr.
À data, os sistemas de projecção cinematográfica digital apresentam três componentes primárias de hardware, a saber:
1) Dispositivo de Armazenamento (servidor), o qual suporta o conteúdo (filme, trailers, conteúdo alternativo e media associada);
2) Bloco Media, cuja missão é a desencriptação, descodificação e formatação do conteúdo no período de reprodução;
3) Projector Digital de Cinema, cuja missão é a de fazer chegar ao ecrã a imagem pretendida.
Em termos gerais, o Armazenamento e o Bloco Media encontram-se no Servidor, logo separados fisicamente do projector. Entre o projector e o servidor há um duplo cabo HD-SDI o qual estabelece a ligação com os dados presentes no filme (áudio, imagem, legendas e metadados).
Contudo, esta ligação acarreta um elevado número de problemas, dada a existência de muita informação a qual atrofia, por vezes, o necessário fluxo fluído entre as partes.
Com o recurso à arquitectura IMB (Integrated Media Block - Bloco Media Integrado) este problema fica resolvido dado o mesmo colocar, fisicamente, os dados do media dentro do projector, sem qualquer tipo de compressão, retirando ao sistema os inconvenientes criados pela ligação física através de cabo, o que lhe confere a capacidade de sacar toda a informação cromática disponível do filme a exibir.
Mas, será que o olho humano nota, de facto, alguma diferença na projecção?
A resposta imediata e a frio é:
Sim!!!!
Estudos levados a efeito por especialistas concluíram que “a frequência de captação de imagem por cada um dos olhos é de 58fps”, o que implica que enquanto este valor não for atingido há campo para novos desenvolvimentos tecnológicos, preconizando-se, desde já, a recolha e projecção a 60, 100, 120 e 250fps, estando a chamada UHD-2, ou seja, a Televisão a 8K (16 vezes a resolução da Alta Definição) a trabalhar a 120fps.
O Cinema recorreu, pela primeira vez, às 48fps precisamente com o Hobbit I, tendo à data de estreia levantado uma série de comentários pouco abonatórios ao sistema, ou seja, a quase inexistência nas imagens do efeito blur (desfocagem), em planos cujo fundo se desloca a uma determinada velocidade, trouxe ao ecrã uma nova realidade à qual os espectadores terão que se habituar.
Dado que o filme é captado com recurso a câmaras 4K (quarto vezes a resolução HD e o dobro da película de 35mm) as imagens projectadas são “excessivamente” reais, em especial nas texturas, dando a sensação, em determinadas cenas, de se tratarem de imagens produzidas em computador.
Por tal razão, o Realizador Peter Jackson, tomou a decisão de “sujar” ligeiramente o Hobbit II e III, dado ter-se dado um salto excessivamente elevado da maneira como as modernas câmaras digitais, assim como os projectores, dialogam com a realidade que lhes é apresentada pela Natureza, ou seja, a aproximação ao modo como o Ser Humano descodifica as imagens no seu dia a dia normal.
A tecnologia digital no Cinema e Televisão veio alterar, completamente, os hábitos de visionamento.
Mas, não é tudo, pois outras profundas alterações estão a aguardar a sua vez.
UHD - 120fps