A Necessária Qualidade Superior
Texto: Carlos A Henriques
Colocados nos pontos estratégicos de controlo de imagem, pós-produção e colorização, os monitores vídeo são o primeiro passo à saída da “fábrica dos sonhos” para uma reprodução cromática de qualidade.
A relevância do tema agora proposto vai conduzir-nos a uma série de apontamentos, aproveitando-se, também, a oportunidade para a colocação numa determinada ordem de uma série de conceitos respeitantes ao desenvolvimento dos ecrãs, os quais nos conduzirão a um melhor entendimento de outros que já passaram a ser o tema das conversas no nosso dia-a-dia, nomeadamente a entrada definitiva do 4K num espaço temporal muito curto, assim como o 8K no Japão, rumo à holografia.
Retorno ao Passado
A maioridade da Televisão, no sentido estritamente técnico, só foi atingida quando se optou por meios electrónicos na captação de imagens, deixando de lado os sistemas mecânicos concebidos, entre outros cientistas, pelo escocês John Logie Baird, dando estes lugar aos chamados TRC/CRT (Tubos de Raios Catódicos/ Cathod Ray Tube), cuja invenção se ficou a dever ao alemão Karl Ferdinand Braun em 1897.
Graças à acção de Vladimir Zworykin, cientista russo naturalizado americano, o qual deu uso aos TRC/CRT através da sua aplicação no acto de transformação da luz em corrente eléctrica (sensor) sendo o Iconoscópio (1923) um dos primeiros tubos de captação de imagem o qual apresentava uma superfície sensível à acção da luz, assim como o Kinescópio (1929) na reprodução de imagens, ou seja, nos televisores domésticos.
Com o advento da cor, no início dos anos 50 nos EUA, e em meados dos anos 60 na Europa, a tecnologia dos televisores baseados em TRC/CRT sofreu um elevado desenvolvimento, sendo este inerente à necessidade de no mesmo espaço terem passado a coexistir não 1 feixe electrónico mas, em alternativa, 3, respeitando cada um à respectiva cor primária usada na mistura do sistema adoptado, ou seja, R, G e B (sistema aditivo).
Durante décadas o TRC/CRT foi o único dispositivo usado na reprodução televisiva das imagens, aparte os sistemas de projecção desenvolvidos, os quais caem fora da análise agora iniciada, pelo que os defeitos de não linearidade de resposta que o mesmo introduzia eram facilmente compensados no acto de captação da imagem, distorcendo a linearidade da resposta dada pelos transdutores, no sentido inverso, o que fazia com que a resposta global do sistema fosse, de facto, linear.
Em função do local onde o monitor de vídeo tinha que desempenhar as tarefas para as quais foi concebido surgiu, a dado momento, a necessidade de se estabelecer uma escala de valores que nos pudesse fornecer, de imediato, a necessária informação sobre a prestação do mesmo, escala essa cujos valores, de 1 a 5, eram apresentados como tendo um dado Grau, correspondendo o 1 ao valor mais elevado e o 5 como o de definição mais baixa.
Assim, de 1 a 3 os monitores são tomados como monitores aplicáveis a ambientes profissionais, enquanto o Grau 4 encontra o seu campo de acção em meios semi-profissionais e os de Grau 5 para trabalhos de “menor” responsabilidade, que o mesmo é dizer trabalhos do foro doméstico.
E nos Dias de Hoje?
Em finais dos anos 90’ começaram a ser disponibilizados no mercado os primeiros ecrãs do tipo plasma, os chamados “flat screen”, a que se seguiram, respectivamente, entre outros, os LCD (Liquid-Crystal Display), LED (Light Emitting-Diode).
Contudo, apesar das suas virtualidades, nenhum deste tipo de monitores respondeu favoravelmente ao chamado Grau 1, lugar ocupado pelos monitores baseados em TRC/CRT, até que em 2012 a Sony lançou, em Las Vegas, durante a NAB, os primeiros monitores de vídeo profissionais do tipo OLED (Organic Light-Emitting Diode), os quais, obedecendo à escala anteriormente enunciada, eram colocados nos locais de trabalho com exigência técnica equivalente ao seu Grau, entre os quais figurava o Grau I, cuja reprodução do nível de negro é francamente superior à do TRC/CRT.
O Que Leva à Alteração da Cor nos Vários Monitores?
Resolvida que está a reprodução do verdadeiro nível de negro há outra questão de vital importância à qual os monitores terão que dar uma resposta cabal, ou seja, perante uma determinada imagem a cores a mesma terá que ser vista em qualquer monitor, seja ele de que tipo for, com a mesma crominância, que o mesmo é dizer, igual matiz e saturação.
Para que possamos “entender” melhor os problemas que estão por detrás do “mau” comportamento dos monitores de vídeo, somos conduzidos ao conceito de “espaço cromático” (colour space), o qual não é mais do que a representação das cores num espaço tridimensional, na forma de cúbica, esférica ou cónica.
Há vários espaços colorimétricos como, por exemplo, o HSM, XYZ, HSL, sRGB, CMY, Luv, Lab e o CMYK, entre outros, cujo estudo e aplicação ao tema “monitores de vídeo” será por nós levado a efeito em crónica futura, em especial o sRGB.
Do Que Se Trata o “Gamma do Monitor”?
Tal como acontece com qualquer transdutor de energia, a resposta do ecrã aos sinais eléctricos que se lhe apresentam na entrada tem como consequência uma resposta dita não linear, ou seja, para uma corrente X de um dado ponto de imagem analisada corresponde uma luz Y, contudo se essa corrente passar a 2X tal não implica obter-se o dobro da luz (2Y).
Este comportamento dos monitores de vídeo terá a necessária análise em simultâneo com o efeito inverso verificado nos elementos sensor usados do lado da captação da imagem, ou seja, à saída das câmaras.
Conclusão
Sendo os monitores de vídeo uma peça fundamental no puzzle que constitui a arte de fazer Televisão, o estudo profundo que nos propomos aqui realizar irá trazer à tona de água a grande dificuldade, ou mesmo impossibilidade, que os fabricantes têm encontrado ao longo dos tempos em fabricarem monitores padrão com um custo relativamente baixo.