Texto: Carlos A Henriques
Nota Prévia
O aparecimento do 3D no Cinema na década de 50, do século passado, apesar de uma tentativa falhada em 1922, resultou, ele também, em algo a que o público não aderiu, ou seja, foram rodados 110 filmes em Hollywood, quase tendo levado alguns Estúdios à situação de pré-falência.
Nas décadas sucessivas novas e desastrosas tentativas no campo do 3D a que correspondeu, de igual modo, ao insucesso das edições anteriores, até que nos primeiros anos do século XXI um vento fresco se levantou levando muitos entusiastas a acreditar que agora é que era. Mas, uma vez mais, falhou a tentativa de “imposição” do 3D como um modo friendly de ver Cinema e Televisão, ou seja, a reprodução da Natureza como ela de facto é, que o mesmo é dizer, tridimensional.
Mas, será que a história já longa desta tecnologia denota algum sinal particular para que o 3D, definitivamente, não nos invada com todo o seu esplendor, passando de uma experiência “gira” mas que não se deseja ver repetida, pelo menos nos tempos mais próximos ao último visionamento?
A resposta a esta questão, no início do século presente, passava por três requisitos, a saber:
O primeiro requisito encontrou resposta positiva a partir de 2007, com a célebre comunicação de James Cameron em Las Vegas, por ocasião da NABSHOW, na qual o Realizador de Avatar e outros grandes sucessos de bilheteira, apresentou o seu ponto de vista sobre o futuro do Cinema, isto perante uma plateia de cineastas incrédulos relativamente ao Digital, tendo preconizado, então, o desfecho que veio a ter a grande Kodak por falta de antecipação estratégica por parte de quem a dirigia então.
Quanto ao segundo é por demais conhecida a posição dos Estúdios, ou seja, face ao grande sucesso de bilheteira alcançado pelo Avatar, estreado nos EUA a 16 de Dezembro de 2010, enveredaram por pegar em guiões concebidos para 2D e através de pequenas alterações rodaram em 3D, lançaram-se nesta nova aventura.
Contudo, esta não foi a pior opção dado que a mina que fornecia ouro fácil depressa se apercebeu que podia ter o melhor de dois mundos, ou seja, os custos de produção de uma filmagem em 2D e um produto final em formato 3D.
E isto como?
Fácil, ou melhor, a rodagem era mesmo feita em 2D, e, depois, através de softwares desenvolvidos para o efeito, as imagens adquiriam a característica 3D. Como os background são quase todos do tipo CGI (Computer Generated Imagery), bastava a sua geração em 3D, cuja integração com as imagens “3D” entretanto convertidas davam ao espectador menos avisado a ilusão de que estavam a assistir a material 3D de origem, sofrendo estes as famigeradas náuseas, cansaço ocular, dislexias e demais maleitas que o processo proporcionava.
Como exemplo do que acaba de ser descrito, visionar o filme de Tim Burton, o “Alice no Pais das Maravilhas”.
Quanto ao terceiro requisito, ou seja, do visionamento auto-estereoscópico, houve da parte da indústria a necessária falta de tempo para uma resposta minimamente aceitável tanto em qualidade como custo, pois as várias soluções apresentadas tarde e más horas, com excepção para a Dolby/Philips/Dimenco, os quais numa parceria de saberes louvável conduziu, para visionamento vídeo, a uma solução com pés para andar, desde que o custo associado tivesse em atenção valores ao alcance do espectador tradicional da classe média, o que de facto não veio a acontecer.
E o 4K? Ajudou Alguma Coisa?
A necessidade que a indústria cinematográfica denotou no momento de abandono da película a favor do registo digital no que respeita ao mantimento, no mínimo, da qualidade anterior, levou a que a DCI (Digital Cinema Initiatives) passasse a pensar não na norma por si desenvolvida e superiormente aprovada, correspondente a uma resolução 2K, ou seja, ligeiramente melhor do que a tradicional HD usada em Televisão, mas em algo muito mais substancial, correspondente a quatro vezes a resolução do HD, vindo esta a tomar a designação de 4K (4.096x3.2.160) no Cinema e 4K (3.840x2.160) em Televisão.
A qualidade intrínseca das imagens 4K, tanto à velocidade normal, 24/25fps, como em reprodução super-slow motion, 120/1000fps, faz por vezes esquecer a necessidade do 3D, razão pela qual houve alguém que pensou na fusão das duas tecnologias tendo resultado uma maravilha da técnica para o deslumbre dos nossos olhos.
A Entrada do IMAX Nesta História
A tecnologia IMAX, mundialmente conhecida pela reprodução de imagens de altíssima definição em ecrãs super-gigantes, passou na fase de transição por uma série de sobressaltos, dado que o então previsível abandono da película como suporte das suas imagens, levantou entre os seus membros um elevado número de dúvidas e desconfiança difíceis de ultrapassar.
Face às dúvidas levantadas, puseram mãos à obra no sentido de eles próprios desenvolverem uma câmara que respondesse aos requisitos exigidos pela qualidade a que o público espectador estava habituado, pelo que deram de uma só vez dois passos em frente, ou seja, com esta nova câmara a resolução deixou de ser motivo de preocupação, pelo que bastava agora um novo passo no sentido de esta ser capaz de captar imagens tridimensionais.
Transformers: A Idade da Extinção
Com uma nova câmara com características técnicas difíceis de igualar, a IMAX pôs à prova, pela primeira vez, todas as suas capacidades as quais foram exploradas à exaustão com a rodagem do novo filme da sequela “Transformers”, cuja direcção foi entregue ao Realizador Michael Bay e ao Director de Fotografia Amir Mokri.
Como o “segredo é a alma do negocio”, dizem alguns, a empresa não divulgou muita informação sobre as características desta nova câmara, contudo sabe-se que tanto a imagem correspondente ao olho esquerdo como a do olho direito são captadas com a resolução full 4K, ou seja, a correspondente à norma para Cinema, sendo a relação de aspecto (formato) de 1.9:1, o que corresponde a um aumento nas dimensões da imagem em cerca de 26% nas salas IMAX, o qual será “cropado” na parte superior e inferior nas salas tradicionais obtendo-se o formato 1.85 ou, em alternativa, o 2.40:1 (Cinemascope).
Sendo a câmara descrita como sendo uma “dupla 65mm”, somos levados a pensar que as imagens captadas deverão apresentar um tamanho equivalente à película de 65mm.
Quanto aos sensores utilizados, outro elemento fundamental quando se pretende saber algo sobre a resposta do equipamento, a IMAX apenas revela que os mesmos foram desenvolvidos na empresa, sendo estes de grandes dimensões não comparáveis aos existentes no mercado.
A câmara é do tipo “integração total”, que o mesmo é dizer, recorre a um par de objectivas intermutáveis, contrariamente ao que acontece nas câmaras 3D tradicionais em que se recorre a duas objectivas, carecendo estas de um beamsplitter montado num rig, tornando-se, como consequência, num conjunto excessivamente pesado e de difícil operação, o que não acontece com esta nova câmara.
A apresentação esteve a cargo do Director do Departamento de Câmaras da IMAX, Mike Hendrilks, em Junho último, tendo o mesmo presenteado a comunicação social com o vídeo que aqui pode ver, sendo este respeitante a alguns planos de grande acção do filme Transformers.