Por: Carlos A Henriques
A evolução natural da actividade televisiva vai criando ao longo do seu percurso novas necessidades, aptidões e posturas perante um fenómeno cada vez mais no nosso dia-a-dia, que o mesmo é dizer “ver Televisão” à hora que queremos, para visionar apenas o que desejamos sem estarmos agarrados ao relógio e à “ditadura” dos mapa-tipo elaborados pelos responsáveis dos canais e sujeitos à necessidade de audiências que lhes pagam a sobrevivência.
A enumeração da lista de profissões que uma Estação de Televisão tradicional recorre é tão extensa que nos leva a passar ao lado, contudo, as novas tecnologias estão a criar novos modos de operação e exploração ao ponto de haver a morte anunciada de algumas e o ressurgimento de outras.
O Cropista, termo por nós acabado de inventar devido ao facto deste ter como acção fazer CROP’s sucessivos a uma imagem base, é um dos casos flagrantes, sendo cada vez mais necessário numa indústria que pretende viver do grande espectáculo feito ao momento sem que para tal haja da parte de quem o proporciona um elevado investimento tanto em máquinas como em pessoal.
Este ano, no decorrer da NABSHOW (National Association of Broadcasters), em Las Vegas e da IBC (International BroadcastConvention), em Amesterdão, um dos temas explorados foi a apresentação, agora em 4K, de sistemas já demonstrados em edições anteriores, os quais pretendem que o telespectador se comporte perante o seu televisor do mesmo modo como se estivesse, de facto, a assistir ao evento no local da sua ocorrência.
Foram três os stands por nós visitados nos quais foi possível perceber melhor as intenções das empresas envolvidas, nomeadamente a Panasonic, a Sony e a FOR-A, assim como ficar por dentro do workflow por cada uma defendido.
O sistema da Panasonic recorre a um conjunto de quatro câmaras telecomandadas e colocadas no mesmo suporte como se este fosse a cabeça do telespectador, e a um sistema informático desenvolvido no sentido de o “casamento” entre as quatro câmaras ser perfeito, o que corresponde a não se notar a passagem de uma para outra câmara nas zonas de colagem.
O resultado é excelente e visionável num conjunto de 4 monitores com um formato especial, ou seja, 64:9, vendo-se, no caso de um desafio de futebol a totalidade do relvado e zona envolvente, sendo possível fazer com o toque de um dedo num monitor touch screen o reenquadramento de qualquer imagem, assim como panorâmicas e zoom, e isto com apenas um Operador, o Cropista, sendo feita a completa dispensa de Operadores de Câmara.
O sistema da Sony, denominado Stitching, recorre a apenas duas câmaras para se obter o mesmo efeito, sendo impressionante o modo como os jovens Cropistas conseguem em fracções de micro-segundos reagir às ordens de um suposto Realizador, resultando para o telespectador menos avisado o desenrolar de um jogo de futebol como se estivesse a ser usado um número de câmaras muito elevado, tudo graças à perícia do Operador e ao sistema que manipula.
É óbvio que o ponto de tomada de vistas é sempre o mesmo, mas, na realidade é isso que se pretende, ou seja, o ponto de vista do espectador no estádio.
Quanto à FOR-A, para além de recorrer a um sistema dentro dos princípios da concorrência conta, à partida, com um trunfo que lhe permite na actualidade estar um passo ligeiramente à frente, ou seja, o recurso à novíssima câmara FT-ONE, a qual capta 980 imagens por segundo, pelo que sempre que se torna necessário um slow motion, panorâmica ou zoom a qualidade da imagem é, no mínimo, soberba.
Se associarmos, agora, a resolução 4K, o melhor é ficarmos em casa sempre que o nosso clube tenha um jogo importante, dado que o que se vê no estádio, com recurso ao nosso sistema visual, é deveras muito menos do que o nosso televisor passa apresentar quando estes sistemas se tornarem de uso comum.