2017-08-08
Texto: Carlos A Henriques
A entrada em jogo da tecnologia IP (Internet Protocol) na gíria televisiva e videográfica, assim como na cinematográfica, tem levantado um enorme coro de vozes discordantes as quais vão no sentido de uma defesa das virtualidades do sistema vigente, ou seja, do SDI (Serial Digital Interface), o qual nas últimas décadas, as correspondentes à adopção do digital, tem cumprido o propósito para que foi desenvolvido e implementado.
Do lado oposto há um movimento muito forte no sentido de tornar toda a estrutura de encaminhamento de sinais mais de acordo com os dias que correm, que o mesmo é dizer, com recurso à Internet e às facilidades que esta disponibiliza, havendo uma rápida integração da mesma, contra todas as previsões inicialmente feitas.
Este “confronto” tecnológico é uma constante sempre que uma nova tecnologia surge com o objectivo de destronar a que está implantada, aliás como aconteceu com a passagem da Televisão mecânica à electrónica (1936), com o abandono do preto-e-branco a favor da cor, em 1953 nos EUA e 1967 na Europa, a entrada do registo magnético de vídeo (1956) a fazer frente à película de 16mm, ou, ainda, o abandono das imagens analógicas a favor das digitais (2000).
Como dado histórico fica o registo da primeira transmissão mundial ao vivo efectuada nas suas várias vertentes com a filosofia IP, o “Carlo‘s TV Café”, na RTL, tendo havido o recurso a multicâmara, assim como à Cloud a qual está cada vez mais presente em qualquer tipo de prestação televisiva.
Carlos‘s TV Caf�
Do exposto podemos afirmar que a experiência da RTL é uma das primeiras que a partir de agora a indústria do Audiovisual vai acompanhar, não só da parte das produtoras independentes, mas, também, pelos canais de Televisão, pois as vantagens do IP sobre o SDI são tão notórias que tornam esta tendência imparável, em especial quando se trata de novas instalações.
Neste aspecto há ainda a considerar a poupança que se faz em recursos humanos e respectivos custos com a deslocação de pessoal para trabalhos no exterior, assim como a libertação de meios técnicos e humanos para apoio a produções múltiplas como iremos demonstrar numa futura peça.
Um dos problemas a que se deve dar uma atenção especial tem a ver com a integração de saberes entre o chamado AV (AudioVisual) e as IT (Information Technologies), havendo aqui, por enquanto, um embate geracional muito acentuado com o seu desvanecimento a verificar-se a um ritmo considerado aceitável.
Na filosofia IP há a implicação do manuseamento de uma elevadíssima quantidade de informação, o que obriga, da parte dos colaboradores envolvidos, a um conhecimento adequado de modo a tirar o melhor proveito das capacidades disponibilizadas.
As demonstrações levadas a cabo durante a IBC 2016, assim como NAB 2017, são a prova das potencialidades do IP, tendo aqui tido o conceito da produção/realização de eventos à distância uma nota marcante, ou seja, nos dias que correm a cobertura de um jogo de futebol implica a existência de uma cara e pouco rentável unidade de exteriores (OB van), dado ser usada de um modo não continuo, assim como as respectivas equipas técnica e de produção.
Carro de exteriores em acção
Com o recurso ao IP, apenas se instalam no local as câmaras e microfones necessários, cujos sinais são enviados por uma única ligação até à estação base onde se encontra a equipa de Produção/Realização a qual, recorrendo ao pessoal técnico que normalmente se encontra de serviço na Estação, procede à mistura de imagens e sons, assim como aos próprios comentários.
IP Produ��o Remota
As ordens da parte do Realizador para os Operadores de Câmara no local, assim como a sinalização necessária, são enviadas pela mesma via, havendo aqui também uma poupança de cabos e ligações, o que tornam toda a complexa operação do passado muito mais simples, e isto tudo com o atraso dos sinais recebidos e emitidos inferior ao tempo de uma imagem (1/25s).
Verificam-se, assim, os pressupostos do IP, ou seja, a flexibilização e a agilidade em qualquer projecto de produção, e isto graças ao facto de ser agnóstico relativamente à resolução empregue, ou seja, SD, HD ou UHD, ao bit depth, frame rate e compatibilidade com as redes Ethernet empregues, o que corresponde a uma grande vantagem nos dias que correm com a resolução a aumentar a uma velocidade vertiginosa.
Co-exist�ncia SDI/IP