A Poesia e o Folclore na Televisão
05/04/2024
Texto: Carlos Alberto Henriques
Solidão, Solidão! A sua trágica beleza, que é a beleza das coisas tristes e dramáticas que refulgem no coração certo da sua mentira não desconhecida nem recusada, mas também um imenso amor à sua terra e ao seu País, que o devoravam, perpassam pela poesia de Pedro Homem de Mello, profundamente telúrica de emoções e de paisagens. Artífice das palavras que revelam a sua angústia de viver, Pedro Homem de Mello cantou, ainda, como ninguém, o Povo e as suas tradições, as paisagens esmagadoras que o elevavam a rara alegria, quando louvava a sua terra de Viana – “A Minha Terra é Viana/Sou do Monte, Sou do Mar” – e o Norte de Portugal.
Poemas impressivos – e porque não impressionistas? – canções de lira, a um tempo cheias de precipícios emocionais e da luz solar que lhe revelava uma beleza e um êxtase que só os seus olhos viam e os seus poemas traziam à claridade.
Como disse Vasco Graça Moura:
“A sua escrita liga-se a uma oralidade lírica, rítmica e prosódica, que vem de uma matriz popular assumida como congénita e como que imediatamente apreendida nas manifestações de uma tradição folclórica muito antiga, reelaborada em fortes contrastes de luz, sombra e cor”.
Mas havia o corpo, esse precipício maior, esse êxtase tão íntimo como a descrição que colocava nas paisagens. Tudo o que diz respeito à condição humana Pedro Homem de Mello cantou, do mito de Narciso :
“Ao passar pelo ribeiro
Onde às vezes me debruço
Fitou-me alguém, corpo inteiro
Dobrado como um soluço”
Ao mundo perante a sua solidão:
“E é desta solidão que necessito
Estúpida, sem dúvida infeliz.
Silêncio imóvel, traduzindo o grito
Que me condena a amar o meu país!”
O cigarro sempre presente
A memória que preservo da sua imagem no ecrã ou em qualquer acto público é a de uma personalidade altiva com uma voz grave de baixo-barítono e a presença constante de um cigarro que o acompanhou até à sua morte.
Segundo o Afife Notícias Informação:
“Afife ainda lhe prestou uma última homenagem em vida, aquando da festa da poesia, em que o poeta apareceu no palco do Casino, mais que esgotado, onde não cabia sequer mais uma agulha, aqui apareceu já um pouco debilitado, tendo sido recebido por José Carlos Ari dos Santos, Natália Correia e outros poetas de destaque nacional, levantando em peso a multidão que enchia a casa, para aplaudir o poeta.”
O local da última homenagem em vida
Tendo acrescentado:
“A última homenagem, aconteceu por volta do centenário do seu nascimento, onde durante um ano o Casino Afifense e uma comissão eleita para tal, realizou uma série de actividades evocativas do poeta, tendo sido nessa altura colocado o monumento aos poetas, uma escultura do artista José Rodrigues, no Jardim de Empostalha, que mereceu um arranjo especial.
Este programa contou com o lançamento de um livro com trabalhos do poeta e mereceu destaque em programas televisivos, nos quais participaram em directo alguns dos elementos da comissão, bem como a televisão chegou a fazer um directo de Cabanas e do Casino Afifense.
Na altura foi criado pelos CTT, um carimbo lembrando o poeta, assim como um postal, onde dois pares dançam o folclore de Afife”.
Comemoração do Centenário (Junho de 2004)
Entretanto, a 5 de Março de 1984, o seu coração de onde brotou muito amor não resistiu, tendo sido tal facto noticiado por todos os meios de Comunicação Social da altura, com especial relevo para a RTP.
A Imprensa no dia do seu funeral
Toponímia
O recurso à figura de Pedro Homem de Mello na atribuição de nomes às ruas de Portugal, de Norte a Sul do país, é uma constante, tal como:
Estrada Pedro Homem de Mello (Afife-Viana do Castelo)
Reconhecimento
Nota: A Ordem do Infante D. Henrique destina-se a distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores.
Pedro Homem de Mello por Júlio Pomar
Bibliografia: Afife Notícias Informação, Diário de Notícias, ETC. E TAL-Jornal, RTP e Memória do Autor.